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“Fome” e “queremos comida” foram as palavras entoadas em uníssono por uma multidão que esperava desde manhã pela entrega de sacos de cereais oferecidos pelos donos de um armazém.
“As chapas [telhado] caíram e o dono deu para o povo”, explica John Joaquim, um desalojado do ciclone Idai, que viu na oferta uma forma de ajudar a matar a fome à família, mesmo sendo com arroz totalmente ensopado pela chuva.
Tal como ele, centenas juntaram-se à volta do armazém alagado, sem uma entrada fácil, o que acabou por causar confusão e obrigar à intervenção da polícia.
“A PRM [Polícia da República de Moçambique] está aqui para tentar organizar, mas está difícil”,
acrescenta John Joaquim.
Pelo chão já havia sacos de vários quilogramas de arroz abertos e, do meio da multidão, Joni Manuel queixa-se da atuação da polícia, que terá disparado para manter a ordem, algo corroborado pelos que o rodeiam.
O protesto espontâneo serviu para centenas de pessoas se queixarem de falta de comida nos centros de abrigo e ainda pelo facto de a cidade continuar sem eletricidade.
“Nas escolas [onde funcionam os centros de abrigo] a comida não está a chegar”, refere John
Joaquim.
“Perdi a casa, perdi a comida, estamos todos na mesma situação”, adianta.
As chapas que cobriam a casa de Fernanda Sónia voaram e na escola “não há comida suficiente”, nem para ela, nem para as suas crianças, queixa-se.
Um total de 22 toneladas de alimentos foram descarregados no domingo na cidade da Beira pelas Nações Unidas e outras 40 toneladas estão a caminho, disse fonte da ONU à Lusa, além de inúmeros outros donativos para um programa de ajuda do Governo de Moçambique que prevê alimentar 400 mil pessoas.
Os serviços de saúde foram também seriamente afetados na cidade, incluindo o Hospital Central da
Beira.
“As áreas da consulta externa e psiquiatria foram as mais afetadas”, descreve Joaquim Zaqueu, funcionário do Hospital Central da Beira, um dos vários voluntários que participam nas ações de limpeza da unidade de saúde.
Juntos, arrastam troncos de árvores para a avenida marginal, para fora dos espaços onde deviam estar a circular utentes, mas onde agora há lama e escombros das partes do edifício atingidas pelo ciclone.
“Esta é a nossa casa e estamos aqui juntos desde segunda-feira”, acrescenta Nangachemo Ziquita,
outro funcionário.
O Idai, com fortes chuvas e ventos de até 170 quilómetros por hora, atingiu a Beira (centro de Moçambique) na quinta-feira à noite, deixando os cerca de 500 mil residentes na quarta maior cidade do país até hoje sem energia.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, anunciou na terça-feira que mais de 200 pessoas morreram e 350 mil “estão em situação de risco”, tendo decretado o estado de emergência nacional.
As comunicações foram sendo reestabelecidas na terça-feira e hoje melhoraram consideravelmente, havendo já algum acesso móvel à internet.
Moçambique cumpriu hoje o primeiro de três dias de luto nacional, decretado pelo chefe de Estado
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